quinta-feira, 29 de setembro de 2016

#42 - TERRA, Fernando Namora

1

Lá em cima, o campanário branco e o galo dos ventos.
A torre deve dez metros de altura ao brasileiro dos Casais.
Meu avô doou um pedaço de quintal. Os outros fizeram o resto.
E hoje -- badalão! badalão! -- toda a serra
tem os ouvidos claros para o som de bronze.

terça-feira, 27 de setembro de 2016

#41 - CANCIÓN, Antonio José Ponte


Pasé un verano intero escuchando ese disco.
Para que la emoción no se le fuera
lo escuchaba una vez cada día.
Si me quedaba hambriento salía a caminar.

A su manera la luz cantaba esa canción,
la cantó el mar, la dijo
un pájaro.
Lo pensé en un momento:
todo me está pasando para que me enamore.

Luego se fue el verano.
El pájaro
más seco que la rama
no volvió a abrir el pico.

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

#40 - JAZZ, Claudia Roquette-Pinto

a noite tece ao redor.
há uma lua uma abó
bada um rosto de lilian gish
que alguém deixou de propósito,
atrás da mureta a
aspereza azul levita
e torna a afundar
abrindo prata e ror nessa hipnose.
correm notas pela escada
pérolas          as teclas
os degraus.
eis:                e depois
um sax desperta flores nos quadris.

de que lugar em mim verto esse caos?

sábado, 3 de setembro de 2016

#39 - STARS FELL ON ALABAMA, Frederico Barbosa

Cannonball plantando o tema
bala de som
redondo e reto
brilho de balão.

Nós e o nosso drama
beijo em campo branco
coração martelo
e lá no centro
eu e você.

Cannonball colhendo tempo
som canhão de pesadelo
no rosto o sopro negro
«dos combates que vão dentro do peito».

Estrelas caindo aqui
ontem, a noite
plano imaginado
e lá no centro
Cannonball arde por dentro.

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

#38 - NOCTURNO, Gastão Cruz

É tão
estranha a paz
que não ter paz me traz (ouvir outrora
os Nocturnos a uma hora
como esta tão longe de tudo vendo embora
as luzes que se acendem nas
janelas em frente
bastaria
para que a nuvem da melancolia
sobre mim derramasse
a água sufocada)
como se, para sossegar, a vida
precisasse
de se sentir perdida.