segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

#25 - CHARANGA, Fernando Grade

Estes soldados de azul passaram para baixo
a ganga frenética, os olhos com ferrugem de rio.
As botas batiam no solo ao som da música,
havia as árvores em fuga e os pássaros,
uma criança de caracóis (o bibe verde...)
levantava voo no açúcar de um sorvete.

Máquinas festivas tecidas de pulmão e trevo
a infância chegava em estátua de barro
um cheiro musguento a uvas e
os trombones subiam na rede, as flautas
rasgavam o medo, as mãos ágeis poisadas
em abeto imaginário: o coração à solta.

Estes corpos suados e com galochas
trazem sargaços no tocar: há uma salsugem
solitária a muitos, beijos de sal que
(rompendo os saxes) adoçam os gestos,
desfazem a mínima gravata e atingem a água
com radar de serpente, água música.

Charanga de metal e sustos onde a pedra rei é mulher
e os soldados vingam-se em saliva de sons.
-- Quem deitou fogo ao piano que não há?

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

#24 - "Era de noite" - José Andrade (Zan)

Era de noite
Estava com a maria da purificação que falou:
-- aliança perdida no mar dá azar!
-- ou sorte
-- sim...

ouvia-se um trio com trompete de chet baker
-- eu usava aliança quadrada!
-- Ahh essas são antigas! A minha era fininha...

A voz de chet baker a cantar é como uma vadiagem ébria

-- ...aqui ainda é assim; não sei como será lá nas outras bandas!...

era noite a fingir de fantasias entre objectos silenciosos e livros
com dedicatórias de relações que o tempo ultrapassa inventando
outras façanhas d'amores e conversas tantas como nus & loucos
do daqui a pouco nascer do dia