quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

#48 - JOSEFINA BAKER, Luís de Montalvor

De qualquer ilha escondida
no quente mar colorista,
veio essa Baker trazida
pla mão da 5.ª avenida:
o roteiro fantasista.

Essa negra Josefina
deixou Colombo vexado,
ligando a terra-menina,
que é branca e greco-latina,
ao continente sobrado...

Um demónio de negrura:
trópico aroma se exala.
Seu corpo a imagem figura
de um brônzeo clima, em tontura,
cercando à noite a senzala.

O ritmo antigo é perdido,
outro mundo volverá.
Nesta Europa sem sentido
a Baker marca o ruído
e o mediano o Dekobra.

Façam batuque, batuque,
plantem na Europa o Haiti.
Caliça que a alma amachuque,
que caia o tecto de estuque
no senhor de Valéry.

Velha casa brazonada,
deu-lhe o vento de ruína.
A celta flor desfolhada,
morreu de tédio pisada
aos pés dessa Josefina.

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